Sistemas industrializados promovem salto qualitativo na construção civil brasileira

Autor: Mário Castro

A construção civil brasileira vem passando por um processo de modernização contínua desde a abertura de nossa economia no início dos anos 90. São quase duas décadas de progresso visível, determinado principalmente pelo uso cada vez maior de sistemas industrializados como estruturas pré-moldadas, blocos pré-fabricados de fachada, banheiros prontos e vedações internas (paredes, forros e revestimentos) em drywall, entre outros avanços. Com isso, está mudando não só a aparência dos canteiros de obras, que ganham em organização e limpeza, mas sobretudo a maneira de pensar a construção, que deixa de ser uma sucessão de operações artesanais, muitas vezes uma interferindo na outra, para tornar-se um conjunto harmônico de processos de montagem de componentes manufaturados fora da obra.

De todas as inovações introduzidas na construção brasileira, sem dúvida os sistemas drywall são os que mais rapidamente vêm ganhando espaço no País. De início, foram aplicados em edificações comerciais – prédios de escritórios, hotéis, flats, cinemas, casas de espetáculos, shopping centers, hospitais e escolas, entre outros – e nos últimos anos vêm tendo utilização crescente também em prédios residenciais, notadamente por iniciativa das incorporadoras e construtoras líderes de mercado das capitais e principais cidades em especial das regiões Sudeste e Sul.

Pode-se dizer que esse segmento de mercado nasceu efetivamente entre 1995 e 1997, quando os principais fabricantes europeus desses sistemas se instalaram no País. Antes disso, houve algumas tentativas pioneiras de introdução dessa tecnologia em nossas obras, com base em componentes importados. Porém, o mercado não se sentiu seguro em adotá-la, com receio de que o uso de um processo que dependia de compras externas poderia refletir-se negativamente nos custos e nos cronogramas das obras, uma vez que as regras oficiais referentes às importações eram restritivas e sujeitas a mudanças bruscas.

Os números comprovam a ascensão dessa tecnologia na preferência de quem projeta e constrói. Partindo praticamente do zero, em 1995 o consumo de chapas para drywall (principal indicador de produção e consumo desses sistemas) já se situava em aproximadamente 1,8 milhão de m2, alcançando quase 3 milhões de m2 em 1997 e 10 milhões de m2 em 2000. Nos dois anos seguintes cresceu em ritmo mais lento e recuou em 2003, da mesma forma que toda a construção brasileira, fechando o ano com pouco menos de 12 milhões de m2. Desde então, porém, mantém-se em alta. Fechou 2006 com quase 16 milhões de m2 e deve chegar perto de 20 milhões de m2 neste ano, com um ritmo de crescimento superior a 15% ao ano.

As estimativas para este ano baseiam-se no fato de que o consumo de chapas foi superior a 4 milhões de m2 no primeiro trimestre, com crescimento de aproximadamente 25% sobre o mesmo período do ano passado e de 43% sobre os três primeiros meses de 2005. Esses dados revelam que o segmento de drywall evolui a uma velocidade bem superior à do PIB da construção civil, que acumulou uma alta de apenas 4,6% de 2001 a 2006, enquanto o consumo anual de chapas, no mesmo período, teve um crescimento superior a 30%.

Por trás desses números estão as muitas contribuições que os sistemas drywall dão para a construção civil. Do ponto de vista da engenharia, são a solução mais adequada à tendência de se construírem edifícios com vãos livres maiores, visando a assegurar maior espaço em garagens e dar maior flexibilidade ao projeto, com várias opções de plantas, de modo a atender com mais facilidade as diferentes preferências dos consumidores. Adicionalmente, uma parede drywall pode ser parametrizada em todos os seus aspectos: ou seja, com um mínimo de alterações, pode-se obter paredes com desempenho acústico superior ou resistentes à umidade ou resistentes ao fogo ou ainda com todas essas características somadas, assegurando o nível de conforto desejado pelos usuários finais. A obtenção de curvas ou a execução de recortes são igualmente facilitadas, dando ao arquiteto muito mais liberdade criativa. Os sistemas são muito leves, sem que isso signifique perda de estabilidade ou rigidez em comparação com a alvenaria, proporcionando ganhos também na redução das estruturas. As paredes são mais esbeltas, proporcionando ganhos de área útil. Ainda há vantagens no fluxo de caixa, pois a execução das vedações internas, juntamente com as instalações elétricas e hidráulicas e todo o acabamento, pode ser deslocada para os meses finais da obra, o que dá mais fôlego financeiro aos incorporadores e construtores.

Já no que diz respeito especificamente à obra, sua montagem é limpa, rápida e com o mínimo de desperdícios porque a quantidade de material movimentado é praticamente a necessária a cada serviço. Além disso, os resíduos das chapas e das massas para tratamento de juntas são recicláveis, assim como os restos de perfis de aço, o que torna o drywall também ecológico. Finalmente, a mão-de-obra é especializada, o que, associado às próprias características dos sistemas, confere-lhes maior precisão – daí dizer-se que, enquanto a alvenaria é a engenharia do centímetro (devido à tradicional correção de imperfeições na aplicação da massa de acabamento), o drywall é a engenharia do milímetro.

São todos esses fatores somados que fazem da tecnologia do drywall um dos mais fortes condicionantes da modernização da construção civil brasileira.

(*) Mario Castro é presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Chapas para Drywall