Paredes duplas de drywall podem elevar o desempenho acústico de construções
Além da densidade do recheio isolante, as chapas de drywall e a espessura do vão formado entre os perfis influenciam o comportamento da parede perante ruídos.
Fonte | Portal AECweb
Autoria | Juliana Nakamura
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Em virtude de sua esbelteza associada à elevada potencialidade para atenuar ruídos, o drywall compondo paredes duplas é uma solução construtiva que pode ser utilizada em aplicações que demandam paredes com desempenho acústico e resistência mecânica superiores. Exemplos de aplicações podem ser encontrados em salas de reuniões em edifícios comerciais, em apartamentos residenciais, hotéis, salas de cinema e shafts de passagem para tubulação de água e esgoto, entre outros lugares.
O sistema combina duas chapas de drywall estruturadas por guias e montantes de aço galvanizado formando uma espécie de caixa que pode ser projetada com espessuras variadas e preenchida com mantas de absorção acústica, como lãs de vidro e de rocha.
“O desempenho obtido varia em função dos isolantes utilizados e do vão entre as placas que cria um colchão de ar capaz de amortecer a onda sonora, reduzindo sua intensidade”, explica o engenheiro Olavo Fonseca Filho, diretor do Grupo Sonar e especialista em projetos de acústica.
NORMA DE DESEMPENHO
Para se ter uma ideia do efeito proporcionado pela combinação entre isolante acústico e vão livre entre as placas, paredes de 200 mm de espessura compostas por duas chapas de drywall de cada lado e lã mineral em seu interior chegam a isolar de 64 dB a 66 decibéis. Essa tipologia atende com folga a ABNT NBR 15.575 – Desempenho de edificações habitacionais, em seu nível superior.
A ABNT NBR 15.575 define níveis de redução sonora mínimo, intermediário e superior para paredes que separam apartamentos e para as que separam as unidades das áreas comuns. Segundo a norma, uma parede que isole de 50 a 52 decibéis atende aos níveis mínimo e intermediário em quase todos os casos.
DRYWALL DUPLO EM CINEMAS E TEATROS
Além dos efeitos acústicos, o drywall com dupla estrutura pode ser especificado por outras razões. Por exemplo, para vencer amplos pés-direitos, como em salas de cinema, auditórios e teatros. Nesses locais, as paredes chegam a 12 metros de altura, demandando estruturas bastante rígidas.
A resistência ao fogo, outro fator que impacta a especificação nesse tipo de aplicação, também se beneficia com o drywall duplo. Enquanto uma parede de drywall simples com menos de 100 mm de espessura e montada com chapas standard resiste ao fogo por 30 minutos, uma parede de drywall duplo com chapas RF (resistentes ao fogo) de 15 mm pode suportar um incêndio por até duas horas. A explicação, segundo Carlos Roberto de Luca, consultor técnico da Associação Drywall, é que em contato com as chamas, o gesso libera água em forma de vapor. Portanto, quanto maior a massa de gesso, maior tende a ser a resistência ao fogo do conjunto.
PAREDES COM INSTALAÇÕES EMBUTIDAS
O drywall com dupla estrutura encontra aplicação também quando o projeto precisa esconder elementos estruturais. Nesses casos, projeta-se uma parede com a espessura da viga ou da coluna a ser disfarçada. Também por causa do vão entre as placas – que pode ser modulado de acordo com a necessidade do projeto – as paredes podem servir para acomodar instalações de hidráulica. “A solução permite embutir uma tubulação com 100 mm de espessura para condução de esgoto”, comenta de Luca. O drywall duplo pode ser empregado, ainda para a construção de nichos na parede, em ambientes que precisam expor peças, por exemplo.
DETALHES DE PROJETO E EXECUÇÃO
Para ser bem-sucedida, a construção de paredes de drywall precisa ser precedida de um projeto que detalhe: o tipo, a quantidade e a espessura das chapas; a espessura, a densidade e o tipo do recheio acústico, assim como a resistência mecânica e ao fogo necessário. O projeto também precisa definir a largura dos perfis estruturais e o espaçamento entre os montantes. “O desempenho acústico deve ser analisado de modo amplo, já que uma série de detalhes, quando mal realizados, podem colocar em risco a capacidade da parede de isolar ruídos”, alerta Carlos Roberto de Luca.
o caso das paredes duplas, o tipo de ligação entre as duas estruturas influencia o resultado final quanto à redução de ruídos e à resistência mecânica. As paredes podem ser construídas com a dupla estrutura independente uma da outra (isoladas) ou solidarizada (ligadas). As do primeiro tipo são indicadas para os casos que exigem maior isolamento acústico. Já as paredes com estrutura ligada são adequadas para aumentar a rigidez mecânica do sistema e costumam ser utilizadas quando é preciso vencer pés-direitos altos ou embutir tubulações. A ligação entre as estruturas é feita com peças de chapas de gesso.
Uma boa prática é prever a aplicação de banda acústica aplicada na estrutura de contorno da parede de drywall, guias e montantes. Esse recurso reduz a chance de o som passar por alguma fresta entre o perfil e o elemento estrutural. Também evita que a onda sonora que atinge a parede seja transmitida para os elementos estruturais por vibração.
Da mesma forma o posicionamento de caixas elétricas deve ser calculado para evitar a passagem de som de um lado para o outro. É recomendável a defasagem entre as peças de, no mínimo 100 mm, e o preenchimento com lã mineral no contorno e no fundo das peças.
COLABORAÇÃO TÉCNICA
Carlos Roberto de Luca: Engenheiro químico é gerente técnico da Associação Brasileira do Drywall
Olavo Fonseca Filho: Engenheiro-civil é diretor do Grupo Sonar e especialista em projetos de acústica