O que é certo ou errado?

Autor: Ricardo J. Botelho

Muito do nosso mal estar com as coisas está associado com o que acreditamos ser certo (ou errado). Se nos sentimos injustiçados, isso traz maus pensamentos e inconformidades.

Repense seus conceitos de certo e errado através de uma história bem conhecida. E veja como é complexo esse tema.

O bom rei Ricardo Coração de Leão partiu para uma cruzada e seu irmão cruel, o príncipe João, usurpou o trono da Inglaterra e colocou no poder seus amigos despóticos, inclusive o xerife de Nottingham. Assim, Robin Hood e seu alegre bando se esconderam na floresta de Sherwood num tipo de guerrilha contra o regime opressor do xerife, roubando dos ricos para dar aos pobres. Tudo pela causa da justiça.

O que você acha da atitude de Robin e seu bando? Confira as diversas alternativas de como encarar e julgar a atitude.

Robin está errado porque não devemos em hipótese alguma roubar.

– As regras devem ser claras e cumpridas. Ok. E as exceções? Diz o mandamento: Não matarás! Mas e a legítima defesa? Assim, para avaliar certo ou errado, algumas pessoas considerariam os motivos que levam Robin ao roubo e o que fez com o seu produto: dar aos pobres.

Robin está certo porque o resultado do roubo ajuda os pobres.

– Pensar nas consequências dos atos é importante, mas os fins nunca são independentes dos meios usados para obtê-los. E como medir o que é bom ou mau? Ou uma boa ou má causa? No caso de Robin parece óbvio o benefício da causa. Mas será sempre tão simples assim?

Robin está certo ao roubar, pois foi contaminado pelo ambiente criado pelo xerife que rouba dos pobres para dar aos ricos.

– Às vezes precisamos de Robins Hoods para, com os mesmos métodos do sistema, corrigir os erros desse sistema. Porém, os maus hábitos (e não os bons) são mais facilmente absorvidos pelas pessoas, o que faria do roubo a condição básica de viver.

Robin não deve roubar, compreendendo que o xerife é um mal que não pode ser enfrentado com o mal.

– Várias religiões, em princípio, pregam que o mal não se deve combater com o mal. A recompensa será a uma vida melhor em outra existência. Assim, aprendemos a nos comportar bem e sermos recompensados. Mas as lutas religiosas ao longo da história nos mostram outra realidade.

Lembrai: olho por olho, dente por dente……..

Podemos, ainda, considerar que Robin por suas ações valoriza um mundo sem opressores e oprimidos. A busca dessa liberdade justificaria a atitude de Robin.

Outra possibilidade é considerar que Robin vive em uma sociedade com deveres e direitos. Dessa forma, seus deveres de combater o mal teriam precedência sobre os deveres de cumprir a lei, nesse caso pelo benefício posterior de oferecer uma vida melhor para a comunidade. Nessa visão, algumas pessoas poderiam se unir a Robin e outras não. E os dois lados estariam corretos em seus princípios.

Robin está certo ao roubar, pois está sacrificando a si mesmo pelos seus valores e não os outros e sim para os outros.

O benefício coletivo justificaria a atitude.

Robin está errado ao roubar, pois a sua obrigação, primeiro, era se comportar como um súdito leal e cuidar de seus interesses pessoais

Assim age a maioria. Sempre!

Robin está certo, pois luta pelo que é moral (dar aos pobres) contra o imoral xerife que faz milhares de pobres sofrerem.

Robin e seu bando estão certos, pois agindo assim sofrem menos que os outros súditos já que são menos apegados aos bens materiais.

Dessa forma ensina o Budismo (desapegas para não sofrer). Mas talvez eles sofressem por outras coisas em função de suas atitudes.

Robin e seu bando agiam fora da lei, portanto deveriam ser presos e punidos.

Mas o que é legal nem sempre é moral: o nazismo e a escravidão eram práticas dentro da lei (absurdo!).

Moral da história: Robin Hood está certo. O xerife está certo ao considerar que Robin está agindo errado.

Portanto, tudo depende das suas crenças.

Adaptado do livro “Pergunte a Platão” de Lou Marinoff